quarta-feira, 24 de novembro de 2010

SE EU FOSSE ENSINAR

Se eu fosse ensinar a uma criança a arte da jardinagem,
não começaria com as lições das pás, enxadas e tesouras de podar.
Levaria a passear por parques e jardins,
mostraria flores e árvores,
falaria sobre suas maravilhosas simetrias e perfumes; levaria a livraria para que ela visse,
nos livros de arte, jardins de outras partes do mundo.
Aí, seduzida pela beleza dos jardins,
ela me pediria para ensinar-lhe
as lições das pás, enxadas e tesouras de podar.

Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas
e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma
me pediria que lhe ensinasse o mistério
daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas
são apenas ferramentas para a produção da beleza musical.
A experiência da beleza tem de vir antes.

Se fosse ensinar a uma criança a arte da leitura
não começaria com as letras e as sílabas.
Simplesmente leria as histórias mais fascinantes
que a fariam entrar no mundo encantado da fantasia.
Aí então, com inveja dos meus poderes mágicos
ela quereria que eu lhe ensinasse o segredo que
transforma letras e sílabas em histórias.

É assim.
É muito simples
                                      RUBENS ALVES

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